Os amantes dos FPS – First-person Shooters – viveram o furor de grandes lançamentos com Battlefield 1, Titanfall 2 e Call of Duty: Infinite Warfare nos últimos três meses de 2016. Jogos que vinham sendo aguardados com as maiores expectativas, um pouco de descrença e que trouxeram à tona muitas dúvidas sobre a inovação dos FPS.

Mas é assim que se espera que o público reaja quando o assunto é o lançamento de novas edições de grandes franquias. CoD, da Infinite Ward, e Battlefield 1, da DICE, já se equilibravam entre a expectativa e a descrença de uns e de outros. Mas o “novato” Titanfall 2, da Respawn Entertainment, foi a zebra, correndo por fora, gerando grandes dúvidas tanto entre o pequeno grupo de gamers que caiu nas graças do primeiro jogo, quanto entre os que não acreditaram na sua fórmula para uma sequência.

Mas, sejam as franquias tradicionais ou o novo concorrente, poucos fãs e especialistas da mídia poderiam ter acertado sobre os resultados que estamos vendo no mercado agora, depois do lançamento dos três jogos.

Battlefield 1 e os terrores da 1ª Guerra Mundial

Battlefield 1 tem como palco a Primeira Guerra Mundial, uma decisão arriscada mas acertada da EA.
Battlefield 1 tem como palco a Primeira Guerra Mundial, uma decisão arriscada mas acertada da EA.

Battlefield 1 chegou primeiro, no dia 18 de outubro, prometendo mais do mesmo em seu estilo de jogo, porém com grandes reviravoltas em termos de ambientação e história. O jogo atual se passaria na Primeira Guerra Mundial, um momento histórico marcado pela nudez violenta dos ataques em massa, pela monotonia das trincheiras e pelo nascimento de técnicas e tecnologias, como os ataques aéreos e a guerra química.

Em suas edições anteriores, assim como a franquia Call of Duty, Battlefield havia chegado à guerra contemporânea, deixando pouco espaço para novidades. Haviam então três opções: continuar apostando nos eventos contemporâneos – uma alternativa muito restrita e repetitiva -, avançar para o futuro das guerras – opção adotada por CoD -, ou simplesmente repensar a franquia, desatando as amarras da evolução temporal. Foi o que fez a DICE, apostando no retorno às raízes dos confrontos com a Primeira Guerra Mundial.

Muitas dúvidas foram levantadas a respeito desta ambientação. A guerra de trincheiras havia sido feroz na Primeira Guerra, mas o uso de veículos fora muito restrito e o entrincheiramento deixava muito pouco espaço para os ataques abertos. O grande medo, para aqueles que entendiam ligeiramente da história, era de que o jogo se tornasse muito monótono ou processual.

Mas o que vimos em Battlefield 1 foi justamente o contrário: uma ambientação quase perfeita, uma jogabilidade extremamente fluída e equilibrada, e acesso livre de restrições ao arsenal dos países, permitindo que os jogadores usufruíssem do game com muita liberdade, deixando um pouco de lado a dura dificuldade material que assolou a WWI, e adotando uma “licença poética” a respeito das abundância de armamentos, veículos e gadgets.

A formula parece ter dado extremamente certo e hoje Battlefield 1 figura com nota 8.5 no user score (a nota dada pelos usuários) do Metacritic. Entre os maiores elogios estão a campanha e a imersão do jogo, que receberam grande aclamação popular. O multiplayer também é constantemente descrito como imersivo e intenso, o que deixa transparecer o bom uso da engine, das mecânicas do jogo e do poderio gráfico.

Porém muitos apontam o multiplayer, etapa onde os jogadores costumam investir mais tempo na franquia, como ligeiramente caótico demais com seus 64 jogadores. Neste ponto, o equilíbrio maior entre o fator “licença poética” dos videogames e a realidade crua, porém limitada, da Primeira Guerra Mundial, poderia ter ajudado a alcançar uma avaliação ainda melhor. Lembrando que, mesmo assim, o multiplayer continua a ser um dos pontos altos do game.

Alguns apontam também a duração da campanha como um ponto fraco de Battlefield 1. Trata-se de um modo história intenso, de qualidade ímpar, porém curto demais. As maiores notas foram investidas na qualidade da narrativa, porém a campanha é constantemente apontada como “apenas uma introdução para o multiplayer” por conta de sua duração reduzida.

Mesmo assim a EA parece ter acertado em cheio em sua aposta de voltar às raízes dos conflitos armados em Battlefield 1.

Titanfall 2 e a experiência de uma boa sequência

Sequência do premiado jogo de 2014, Titanfall 2 chegou fazendo sucesso entre os gamers.
Sequência do premiado jogo de 2014, Titanfall 2 chegou fazendo sucesso entre os gamers.

É verdade que poucos foram aqueles que jogaram o Titanfall original. Não apenas isso, menos ainda foram aqueles que caíram verdadeiramente nas graças do game nos idos de 2014. Mas, apesar de um público limitado, o jogo mostrou bom potencial com suas mecânicas inovadoras, a adoção dos robôs gigantes em suas batalhas e sua injeção de adrenalina com a movimentação no estilo parkour, que se tornou marca registrada da franquia. A primeira versão do game acabou por ganhar mais de 60 prêmios na época, além da expectativa de uma sequência.

Apesar de ter sofrido duras críticas durante sua fase beta, Titanfall 2 chegou para abalar o tão solidificado mercado dos FPS. A Respawn Entertainment parece ter acertado em sua aposta de campanha single player bem trabalhada, recebendo muitos elogios do público sobre a história e imersão.

O lançamento no dia 28 de outubro colocou Titanfall 2, jogo multiplataforma para PC, Xbox One e PS4, em uma posição bastante desconfortável. Brigar com dois títulos gigantescos, Battlefield 1 e Call of Duty: Infinite Warfare, se infiltrando entre suas datas de publicação pode não ter sido a melhor estratégia de mercado da EA que, além disso, investiu muito pouco no marketing do game. Mas a qualidade do jogo parece estar dando conta do recado até o momento.

O jogo recebeu nota 8.4 entre os usuários do Metacritic e avança pelo tempo recebendo diversos elogios. Muitos foram aqueles que começaram suas críticas afirmando que “Titanfall 2 realmente me surpreendeu”. O jogo tão criticado em sua fase beta parece ter crescido e se desenvolvido para brigar entre os grandes.

Sua velocidade alucinante e ferocidade nas batalhas rendeu à Titanfall 2 o título de “um dos mais divertidos e excitantes jogos da atualidade”, segundo alguns de seus fãs. Muitos comparam o vício gerado por Titanfall 2 com os clássicos Counter Strike 1.6 e Call of Duty: Modern Warfare, além de apontarem o game como um dos FPS mais bem trabalhados de todos os tempos.

A campanha single player também vem sendo elogiada massivamente pelos jogadores, com level design, gráficos e história no topo da lista de pontos positivos. Mas a variedade de pilotos e mechas também parece ajudar a elevar o nível do modo multiplayer, que conta com a possibilidade de selecionar estrategicamente o tipo de mecha e gadgets do piloto para combater seus inimigos, gerando o suporte correto no campo de batalha.

O equilíbrio entre os equipamentos parece figurar como um das grandes vantagens de Titanfall 2, garantindo a adesão, imersão e diversão dos jogadores durante as partidas multiplayer, além da opção de transitar entre piloto e mecha, variando o tipo de jogabilidade e reduzindo as chances do jogador se cansar.

Porém, o estilo run-and-gun frenético e imediatista levou o jogo a perder alguns pontos na classificação dos jogadores. Talvez um sistema melhor de progressão e aprendizado pudesse reverter o problema daqueles não acostumados com FPS desse estilo. Morrer absolutamente do nada durante as partidas pode ser engraçado no começo, quando você está aprendendo, mas rapidamente se torna irritante e o jogador pena um pouco até melhorar nos controles e passar desta etapa.

O modo multiplayer “Attrition” aparece como o mais adorado pelos jogadores, que não cansam de indicar para quem deseja iniciar sua jornada com uma experimentação multiplayer antes mesmo de jogar a campanha principal. Ademais, Titanfall 2 frequentemente é descrito como um “upgrade” do jogo original em todos os sentidos.

Call of Duty: Infinite Warfare tende ao infinito, mas não de um jeito bom

O mundo futurista apresentado nos trailers de Call of Duty: Infinite Warfare chamou atenção do público e da mídia.
O mundo futurista apresentado nos trailers de Call of Duty: Infinite Warfare chamou atenção do público e da mídia.

Se as expectativas foram largamente atendidas nos primeiros lançamentos, Call of Duty: Infinite Warfare parece estar se tornado o patinho feio entre os novos FPS, ao menos para os críticos do Metacritic. O jogo foi uma grande aposta da Infinite Ward, recebendo pesado investimento publicitário pela Activision. Inifinite Warfare foi a evolução imaginada pelos seus produtores dos campos de batalha modernos para as guerras espaciais.

Se o seu rival Battlefield 1 acertou retornando às origens, CoD parece ter deslizado em seu avanço para o futuro. O jogo vem recebendo duras críticas em relação à sua campanha single player, com nota 3.2 entre os fãs em sua página do Metacritic. Curiosamente, entre a crítica especializada o jogo vem recebendo, continuamente, bons reviews e notas bastante generosas dos principais sites.

Mas Infinite Ward e a Activision parecem ter desagradado completamente a maior parte do público, que considerou a campanha do game uma das piores de todos os tempos. Uma das críticas mais divertidas do Metacritic afirma que CoD: Infinite Warfare trata-se de um “copia-e-cola sem vergonha de Black Ops 3. É como comer o mesmo cereal no café da manhã, todos os dias, pelos últimos 10 anos”, comentou um fã irritado.

Ainda, segundo os jogadores, não houveram quaisquer melhorias em relação às edições anteriores, e sua campanha chega a dar sono. O futuro imaginado por seus criadores desponta como algo muito raso, que se repete muito e não faz nenhum sentido. Os mapas também foram bastante criticados, bem como a engine sobre a qual o game foi desenvolvido.

O modo Zombie é apontado como um dos pontos altos do game, enquanto o multiplayer em si figura como um dos mais monótonos de todos os tempos. Muitas comparações fora inevitáveis entre os multiplayers de CoD e Titanfall 2, clamando o segundo como uma aula de como fazer o jogador se divertir. “Se você jogou Black Ops 3, então você já conhece o multiplayer de Infinite Warfare”, apontam muitos descontentes.

É interessante lembrarmos também sobre a defasagem no cross-play de Call of Duty: Infinite Warfare, onde não apenas os jogadores do Xbox estão impedidos de jogar com seus colegas do PC, como também estão não podem jogar juntos os usuários do Steam e os jogadores da Windows Store. Nós, do WannaPlay, já comentamos a respeito e você pode saber mais a respeito neste artigo.

Os jogadores mais ponderados analisam o Infinite Warfare como mediano. Mediocre, seria o termo correto. Nada além de uma cópia de Black Ops 3. Mas não chega a ser o pior jogo de todos os tempos, também afirmam. As notas mais altas de Infinite Warfare no Metacritic estão entre 5 e 7, mostrando que, mesmo entre os mais esperançosos, o jogo perdeu muito em comparação ao potencial gerado antes do lançamento.

Esta pesada crítica pública parece muito dispare em comparação ao que se reflete na mídia especializada. Esta dualidade de análises é, no mínimo, curiosa. Mas, considerando que CoD sempre figura entre os jogos mais vendidos de FPS ano após ano, a falta de inovação e a repetitividade poderiam ser os fatores que explicariam o desagrado popular, ao mesmo tempo que passariam despercebidos nas análises mais específicas e pautadas da crítica especializada. Uma evolução que devemos observar ao longo do tempo.

Conclusões sobre Battlefield 1, Call of Duty: Infinite Warfare e Titanfall 2

Existe um horizonte claro para os jogos de FPS no momento. Para os jogadores que preferem games no estilo run-and-gun, mais frenéticos, com multiplayer divertido por si só, Titanfall 2 parece ser a escolha certa. Para aqueles que buscam algo mais profundo e tático, com um estilo de FPS mais estratégico, Battlefield 1 é a escolha mais ajustada.

A escolha da EA em voltar muitos passos na história e trazer a dureza da Primeira Guerra Mundial para Battlefield 1, juntamente com a capacidade dos jogos de videogame de transformar uma realidade cruel em puro desafio, parece ter fundamentado os alicerces das franquias FPS tradicionais em 2016.

Já Titanfall 2 contribuiu grandemente para a parcela de inovação que os jogos FPS clamavam nos últimos 10 anos. A mistura de tecnologia, futurismo e uma boa narrativa deram sabor ao caldo da Respawn Entertainment, neste que, provavelmente, também concorrerá ao título de melhor multiplayer do ano.

Já a Infinite Ward e a Activision deverão colher e pastar a amarga grama de um jogo mediano, infestado de críticas ruins por parte de seus jogadores, apesar de provavelmente conquistar um número de vendas muito além de seus concorrentes, sendo esta uma das franquias mais fortes e poderosas de todos os tempos.

Se em 2016 o mundo do FPS precisava de novidades, o retorno ao longínquo passado da WWI e as novidades de uma franquia multiplataforma recém nascida mostraram-se incrivelmente inovadoras para os jogadores de todo o mundo.

Uma surpresa quase paradoxal, não é?