Não é de hoje que a indústria dos games balança sobre o relacionamento de empresas como a Bethesda, a mídia e o consumidor. Parece que, recentemente, a criadora de sucessos como DOOM, Fallout e dos já tão esperados The Elder Scrolls V: Skyrim Special EditionDishonored 2, resolveu desbalancear um pouco mais este delicado equilíbrio.

Mas vamos voltar ao começo de 2016, quando a Bethesda estava em vias de lançar seu tão aguardado DOOM: “No início do ano lançamos DOOM.” – lembrou Gery Steinman, líder global de conteúdo da Bethesda – “Nós enviamos cópias um dia antes do lançamento para a mídia, o que levou a especulações sobre a qualidade do jogo. Desde então, DOOM foi aclamado tanto pela crítica quanto pelas vendas e agora é um dos mais cotados shooters dos últimos anos.”

E foi com esta premissa em mente, de que a mídia especializada não é capaz de analisar propriamente um jogo antes de seu lançamento, que a empresa optou por não mais enviar cópias dos seus jogos para a os veículos, YouTubers e Streamers relevantes antes dele chegar às prateleiras. Simples assim.

A Bethesda se apoia em seus grandes títulos para ampliar sua independência da mídia.
A Bethesda se apoia em seus grandes títulos para ampliar sua independência da mídia.

Se tem uma indústria que nos prova diariamente quanto o auge pode ser curto, é a indústria dos games. A Bethesda assume uma posição de risco, baseada na qualidade dos seus produtos.

“Com o vindouro lançamento de Skyrim Special Edition e Dishonored 2, nós daremos continuidade em nossa política de enviar cópias do jogo apenas no dia anterior ao lançamento,” afirmou Steinman categoricamente. “Ao mesmo tempo, continuaremos trabalhando com a mídia, streamers e youtubers para auxiliar em sua cobertura [sem o envio de jogos], tanto antes quanto depois do lançamento. Nós queremos todos, incluindo a mídia, experimentando nossos jogos ao mesmo tempo.”, finalizou o representante.

Resumindo para você, caro leitor: A Bethesda acredita que a mídia – especializada ou não – não tem capacidade de analisar um jogo qualitativamente para os consumidores. Por isso a empresa decidiu que a melhor opção seria controlar a informação sobre seu próprio produto, afastando-o das mãos dos analistas e do público até que ele esteja nas prateleiras.

A mídia se revolta

Esta vem sendo a ótica largamente publicada pela maioria dos veículos de mídia, incluindo gigantes como a Polygon, a Eurogamer e até mesmo o youtuber Jim Sterling, sobre a atitude da Bethesda. O youtuber foi além e fez um vídeo onde parodiou a situação se “desculpando” acidamente, bem ao seu estilo, por ter julgado games alheios à partir dos seus conhecimentos claramente irrelevantes.

Muitos ainda reforçam negativamente os mecanismos que as distribuidoras vêm criando ao longo do tempo para garantir que receberão o dinheiro dos jogadores antes mesmo do jogo aparecer ao mercado.

A cultura do pre-order será agora reforçada pela falta de informações, às quais o jogador não terá acesso segundo as novas restrições de mídia da Bethesda. Ou seja, você pode entregar seu dinheiro para a empresa, não apenas antes do jogo chegar ao mercado, mas antes mesmo de ter acesso a qualquer tipo de informação imparcial sobre o seu conteúdo. Corta-se, então, de vez, a mídia de uma equação que já é bastante tendenciosa a favor das empresas.

Esta decisão sugere claramente o quanto a Bethesda acredita e se apoia na qualidade dos seus produtos que, de fato, vêm evoluindo nos últimos tempos. Mas se tem uma indústria que nos prova diariamente quanto o auge pode ser curto, é a indústria dos games.

E quando você se desfaz de seus apoiadores e desdenha dos seus críticos, é preciso estar preparado para a queda em caso de falha, sem ninguém lá em baixo para te segurar.

As falhas chegam, invariavelmente, muitas vezes com a violência de um mariner descontrolado e vingativo, no melhor estilo shooter.