Com uma ótima proposta de enredo, Yesterday Origins, desenvolvido pelo estúdio espanhol Pendulo Studios, chegou em Dezembro de 2016, muito próximo de jogos de grande expectativa como Final Fantasy XV e The Last Guardian, o que pode ter afetado diretamente a visibilidade e o impacto do seu lançamento.

A Pendulo Studios foi responsável pelo primeiro adventure point-and-click da Espanha, Igor: Objective Uikokahonia, lançado para MS-DOS em 1994. O estúdio possui uma enorme influência dos jogos da LucasArts e tem muitos outros adventures em seu currículo, inclusive uma obra lançada em 2012 no mesmo universo e com o mesmo personagem principal, John Yesterday, chamado apenas Yesterday.

O jogo possui gráficos 3D cel shading, característica de outros títulos do estúdio. Ao contrário do estilo adotado pela Telltale, aqui sente-se um visual mais clean e com traços mais diretos. A trilha sonora ajuda muito a criar uma boa ambientação, sendo bem precisa em alternar entre os momentos no passado e no presente. Ainda sobre os efeitos sonoros, na versão de PS4 o jogo coloca os efeitos do ambiente saindo através dos falantes, como o efeito de água correndo ou o barulho do vento, por exemplo.

A história acompanha John Yesterday e sua namorada, Pauline, em uma jornada para recuperar as memórias do protagonista. Yesterday é imortal e possui mais de 500 anos, enquanto sua namorada, também imortal, passou por um ritual não muito bem explicado. O ponto é que toda vez que morrem, eles ressuscitam com a mesma idade de sua primeira morte. No caso de Yesterday, todas as vezes que ressuscita ele perde todas as memórias de suas “vidas” passadas, enquanto Pauline sempre se lembra de tudo.

A jogabilidade de Yesterday Origins é baseada em puzzles com mecânicas de “point and click”.
A jogabilidade de Yesterday Origins é baseada em puzzles com mecânicas de point-and-click.

A jornada acaba por ter como principal objetivo entender o porque de John Yesterday sempre perder sua memória a cada “vida”, e descobrir mais sobre o passado do protagonista. Para isso o jogo te coloca em cenas no passado, através de memórias que vão sendo ativadas em determinados pontos e se passam tanto antes dele ganhar sua vida eterna quanto no presente, onde ele tenta manter uma vida normal com sua namorada, tocando uma loja de antiguidades na França.

Em muitos momentos você controla os dois personagens, e cada um deve resolver uma parte do desafio proposto no cenário para conseguir prosseguir na história. A alternância é feita de forma manual a gosto do jogador mas, obrigatoriamente, você terá que resolver a parte de cada um e elas são sempre interdependentes.

A jogabilidade é baseada em puzzles com mecânicas de point-and-click. Nesse ponto a versão de PC e console variam bastante, sendo que a primeira possui uma jogabilidade mais fluida. Os puzzles variam de simples combinações de itens encontrados no cenário até a construção de planos baseados em características identificadas nos personagens, conversas cadenciadas e utilização de itens encontrados no cenário, o que pode tomar bastante tempo até que todos os elementos, conversas e planos sejam resolvidos.

Os puzzles, apesar de às vezes serem relativamente complexos, não são ilógicos ou focados na tentativa e erro. Praticamente todos possuem alguma dica, tem relação clara com a história ou algum diálogo para serem resolvidos. Tenha em mente que você utilizará praticamente todos os itens encontrados no cenário; explore os diálogos e pessoas exaustivamente, pois muitos puzzles têm parte da resolução neles. Em alguns momentos depois da resolução você vai se pegar pensando “como não pensei nisso antes?”.

O jogo possui alguns bugs (no meu caso travou a ponto de ter que fechá-lo e abri-lo três vezes), e os controles de movimentação são um pouco imprecisos nos consoles, fazendo com que você deixe passar algum ponto de interação ou tenha que ficar se movimentando até achar o ponto certo, o que pode ser bastante irritante.

Yesterday Origins demora um pouco para “engrenar” em sua narrativa, que é complexa e rica.
Yesterday Origins demora um pouco para engrenar em sua narrativa, que é complexa e rica.

Com uma história complexa e rica, envolvendo elementos sobrenaturais, narrativa e momentos de investigação e suspense, o jogo perde tempo com coisas bobas, e deixa outras mal explicadas. Particularmente fiquei curioso para entender melhor como Pauline se tornou imortal também, mas isso é jogado bem superficialmente na história. Desta mesma forma, existem puzzles que se focam em coisas banais, enquanto poderiam ter um foco maior na exploração da história.

Um dos pontos negativos é que o jogo demora um pouco para engrenar em sua narrativa, devido justamente à perda de tempo com algumas partes que pouco acrescentam à história, fazendo com que você precise ter um pouco de persistência no inicio, até para entender sua lógica.